LABORATORIO EM BILBAO (IX FESTIVAL DE TEATRO E DANÇA CONTEMPORÁNEA)

Aos 2 de Novembro de 2007, como parte do IX Bilbao Antzerkia Dantza - BAD (IX Festival de Teatro e Dança Contemporânea de Bilbao), no espaço Bilboescena, Bilbao, País Basco, realizamos mais uma etapa do work in progress de_Extranjis – projeto idealizado pelo Kapota mas não Breka e no qual estamos trabalhando no Brasil desde Janeiro de 2007. O trabalho em Bilbao foi realizado em cinco dias e contou com um grupo total de 09 artistas que intercambiaram processos criativos sob o tema O Estrangeiro + Sensação Estrangeira – foco desta investigação. Território, Estrangeiro e Viagem/Viajante configuraram as bases deste trabalho que pretendeu colocar em situação as questões mais relevantes para cada artista e, levantadas pelo grupo. Trabalhamos desde a perspectiva do experimento, no sentido que John Cage deu ao termo – algo que não está condicionado ao fracasso ou ao sucesso, mas sim algo que não sabemos em que resultará ou como terminará. O foco do trabalho foi o de que cada um se perguntasse o que é a sensação estrangeira, quando e como ela se apresenta, quais fatores a determinam, até que ponto mover-se por e em territórios é determinante, como ela se fisicaliza e se espacializa. O trabalho se auto-renovava dia a dia e, uma vez que não focávamos um progresso de acumulação de conhecimentos e trocas, nos permitimos trabalhar num processo aberto e rizomático. A diversidade do grupo enriqueceu ainda mais esta experiência que compartilhamos aqui no blog. Vão publicados vídeos do trabalho assim como um texto de um de nossos colaboradores nesta empreitada, Andeka Larrea, traduzido para o português.

DE EXTRANJIS: TENTATIVAS ANTI-TERRITÓRIO

Nosso corpo, nossa casa, nossa família, nossos amigos, nossas crenças, nosso modo de vida, nossa cultura configuram o território no qual habitamos ou moramos no mundo urbano, uma pele-pensamento que nos possui muito mais do que nós a ela, um estar no mundo predeterminado pelas representações da identidade essencial. Porém, o que é a identidade senão um sentimento de pertencer acolhedor que nos permite sair sob a intempérie com uma passagem de volta assegurada? Todas e cada uma das identidades foram definidas na história por e para a compreensão/resguardo do alheio/estranho; a esfera que nos abriga e, também, a fronteira ritual que se traça para distinguirmo-nos de um outro que, quase sempre, é um estranho que ameaça nosso sossego, nossos costumes ou nosso modo de pensar. A característica da estratégia política contemporânea no intento de evitar a explosão das esferas de intimidade individuais e coletivas (as chamadas crises civilizatórias) consistiram em sublinhar até a náusea a existência de diferenças entre identidades e culturas, assim como excitar as atitudes de rechaço às aventuras anti-esféricas que as críticas ao essencialismo de identidade haviam posto sobre a mesa. Agora, de novo, a condição humana (legal) está submetida a habitar seu território e a evitar a entrada de outros (territórios) na sua esfera pessoal e coletiva, reforçando as muralhas da identidade através de celebrações coletivas e rituais (folclore do pertencer) que excluem qualquer possibilidade de comunicação com o estrangeiro. A falaz argumentação e o sentimentalismo desbocado ajudam a desentender o essencial: Que o “afora” que nos constitui é essencial a nós mesmos e que o “dentro” que habitamos, é um processo sem fundamento no qual o “estranhar-se” é tão fundamental como respirar. ANDEKA LARREA Bilbao, 2 de Novembro de 2007