DE EXTRANJIS: TENTATIVAS ANTI-TERRITÓRIO

Nosso corpo, nossa casa, nossa família, nossos amigos, nossas crenças, nosso modo de vida, nossa cultura configuram o território no qual habitamos ou moramos no mundo urbano, uma pele-pensamento que nos possui muito mais do que nós a ela, um estar no mundo predeterminado pelas representações da identidade essencial. Porém, o que é a identidade senão um sentimento de pertencer acolhedor que nos permite sair sob a intempérie com uma passagem de volta assegurada? Todas e cada uma das identidades foram definidas na história por e para a compreensão/resguardo do alheio/estranho; a esfera que nos abriga e, também, a fronteira ritual que se traça para distinguirmo-nos de um outro que, quase sempre, é um estranho que ameaça nosso sossego, nossos costumes ou nosso modo de pensar. A característica da estratégia política contemporânea no intento de evitar a explosão das esferas de intimidade individuais e coletivas (as chamadas crises civilizatórias) consistiram em sublinhar até a náusea a existência de diferenças entre identidades e culturas, assim como excitar as atitudes de rechaço às aventuras anti-esféricas que as críticas ao essencialismo de identidade haviam posto sobre a mesa. Agora, de novo, a condição humana (legal) está submetida a habitar seu território e a evitar a entrada de outros (territórios) na sua esfera pessoal e coletiva, reforçando as muralhas da identidade através de celebrações coletivas e rituais (folclore do pertencer) que excluem qualquer possibilidade de comunicação com o estrangeiro. A falaz argumentação e o sentimentalismo desbocado ajudam a desentender o essencial: Que o “afora” que nos constitui é essencial a nós mesmos e que o “dentro” que habitamos, é um processo sem fundamento no qual o “estranhar-se” é tão fundamental como respirar. ANDEKA LARREA Bilbao, 2 de Novembro de 2007

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